Todo mundo já teve uma professora ou professor muito engraçado. Daqueles que transformam todo o conteúdo em algo divertido com paródias, músicas hilárias, imitações dentre outras estratégias igualmente populares entre crianças e adolescentes. É a aula mais esperada da semana e os alunos estão tão engajados que chega a dar orgulho.

Até que ponto a diversão é eficaz no processo de aprendizagem? Existe algum limite?

Quando me recordo das aulas que já tive quando aluna do ensino básico, me lembro que, não necessariamente eu sabia as disciplinas cujos professores eram divertidos. Principalmente no ensino médio há uma cultura da diversão entre os professores, com intuito de cativar adolescentes cujos interesses múltiplos residem quase que totalmente fora da escola.

Realmente eram aulas divertidas e em todas elas eu prestava total atenção. Mas meu resultado em tais matérias não se alterava. Na hora de estudar poderia até existir algum tipo de facilitação de memória por meio de links de associação de informação com piadas ou músicas. Mas principalmente nas disciplinas de exatas a resolução dos exercícios pouco depende da memorização de fatos, e sim da coordenação dos mesmos para a solução de problemas. Outro tipo de competência que envolve outras habilidades.

Atualmente, com o boom do ensino remoto, cada vez mais se utilizam ferramentas audiovisuais para entregar conteúdo. E com elas, inúmeras possibilidades divertidas de inserção de memes, gifs, imagens, e outras estratégias de entretenimento do público. Eu mesma faço isso nas minhas palestras e cursos. :/

Claro que utilizar gifs ou memes de vez em quando funciona bem para descontrair os alunos ou a audiência e pode funcionar na retomada do foco atencional da turma.

Entretanto, o excesso de tais elementos ou mesmo das piadas e paródias pode funcionar mais como distração do que como ponto de apoio para consolidação de informações relevantes.

Tais elementos são chamados de “seductive details” ou, em tradução literal: detalhes sedutores.

Há pesquisa consolidada acerca de tais elementos e seu impacto na aprendizagem. Em um artigo de meta-análise acerca do tema, o pesquisador NarayanKripa Sundararajan reúne inúmeras evidências do uso de tais elementos e alguns pontos se mostram relevantes:

  • A inserção de tais elementos, quando não relacionados ao assunto ou irrelevantes para a construção do conhecimento, acaba por desviar a atenção das informações principais causando confusão na consolidação do tema.
  • Quando inseridos no início da aula ou livro distraem facilmente, mas o efeito é temporário. Entretanto, quando a aula ou conteúdo é finalizado de tal maneira, a confusão mental sobre as informações dadas é ainda maior. O ideal é utilizar técnicas e estratégias para recapitular os elementos dados na aula a fim de formar memória não fragmentada.
  • A inserção de detalhes sedutores acaba por ocupar áreas executivas de processamento, como por exemplo aquelas relacionadas à memória de trabalho, ocupando “espaço” e dificultando o processamento das informações relevantes no quebra-cabeça das informações aprendidas.

Como fugir dessas armadilhas e utilizar ferramentas realmente eficazes em termos de aprendizagem?

Seguem as dicas, de acordo com Kripa Sundar, autor do artigo publicado pelo Edutopia e que fala sobre o assunto.

1. Siga a regra do “menos é mais”– a inserção de detalhes extras acaba por confundir o aluno sobre o que é efetivamente relevante ou não. Às vezes inserimos aquela piada na aula, porque ela encaixa em determinado assunto, mas não necessariamente é a informação mais relevante. Pronto! Criamos um gancho de memória para a informação errada. 

2. Seja simples e concreto – o processamento de informações se dá de forma visual e auditiva, principalmente. Quando inserimos elementos como GIFs, obviamente serão mais eficazes em direcionar atenção do que imagens simples. Entretanto, a informação passada ao cérebro é a de que a imagem engraçada está ali apenas para diversão, o que confunde o encadeamento e a coordenação necessários para consolidar o conteúdo.

3. Estética relevante – Com toda certeza a estética das apresentações é relevantes. Ninguém quer ver slides monocromáticos com pouca informação visual e muito texto. Portanto, direcione o embelezamento de suas apresentações com imagens que façam sentido no contexto da aprendizagem e que vão efetivamente atuar como informação. Além disso, demarcar informações importantes com molduras, cores e outros artifícios envia ao cérebro a mensagem de que tais informações são relevantes. Alunos nem sempre sabem o que de fato importa no conteúdo.

4. Finalize com clareza – o final da aula é um dos mais importantes. É o momento de retomar os principais conceitos e enumerá-los, agora que todo o conteúdo já foi visto. Em vez de finalizar com piadas ou memes, utilize técnicas relevantes para evocação de memória ou técnicas eficazes para trabalhar a habilidades cognitivas dos alunos.

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Fonte: Glia Neurociência