Quando perguntamos aos professores qual o ponto crítico em relação aos alunos atualmente, a resposta com frequência é: falta motivação! Temos a visão de que os alunos andam desmotivados, porque há uma infinidade de objetos e coisas mais interessantes a serem feitas, e que acabam ganhando a competição com a sala de aula (virtual ou não).

Munidos dessa certeza, lá vamos nós tentar motivar os alunos a estudarem. Como se fosse tarefa simples, e como se motivação pudesse efetivamente ser encorajada unicamente por fatores externos.

Programas de formação continuada acabam sendo pautados em metodologias com o único ou principal intuito de motivar alunos. Muitas dessas metodologias conseguem criar essa atmosfera de forma plena em sala de aula, quando há o professor como mediador do processo. Mas a situação modifica quando o aluno está em casa e necessita de “motivação” para estudar.

Algumas abordagens incluem a oferta de recompensas para gerar comportamento motivado. Como por exemplo, premiações por resultados em exames ou por boletins impecáveis, dentre outras formas de recompensa. Essas recompensas são incentivos e não refletem motivação em si.

O comportamento motivado é aquele que acontece em resposta a algo que vai gerar recompensa (não, incentivo). O ponto-chave é que essa recompensa precisa ser imediata, caso contrário não haverá estímulo para o comportamento ser repetido. Ainda mais se for considerado enfadonho ou difícil, as duas maiores causas de perda de motivação para qualquer ser humano!

Logo, motivar alunos a estudarem ultrapassa limites de incentivo por parte de nós professores. Fazemos o que podemos!

A questão é que o estudo vai ocorrer mais na esfera do hábito do que na da motivação. Isso no que compete a nós professores. Pensamos tanto em estratégias de sala de aula, que acabamos auxiliando pouco na continuação do processo de aprendizagem. Dessa maneira, a criação de métodos e hábitos de estudos é essencial.

Um discurso motivacional de início de ano gera uma onda momentânea, mas não será suficiente para manter o estudo crônico. É aí que entram as estratégias para criação de hábitos. É o hábito que vai tornar a execução do processo cada vez mais fácil. Ninguém ama escovar os dentes ou se sente plenamente motivado a fazê-lo várias vezes ao dia. Fazemos porque é um hábito. Se dependermos de motivação elevada para tudo que desejamos executar, falharemos. A motivação é algo extremamente flutuante, como explica o pesquisador de Stanford, especialista em hábitos B. J. Fogg e autor do livro Micro-hábitos. Para gerarmos comportamentos duradouros devemos apostar na criação de hábitos consistentes.

Como fazer isso com alunos se o hábito de estudo é algo construído principalmente por ações que ocorrem em casa, quando não estamos com eles?

O primeiro passo é informação. Algo que existe para professores, mas falta para os alunos. A formação continuada é a gestão de conhecimento aplicada ao meio educacional. Entretanto, pouco repassamos aos alunos em termos de conhecimento sobre a aprendizagem propriamente dita, ou sobre comportamento ou sobre como criar hábitos. Assunto para outro texto.

Outro ponto importante e que influencia a criação de hábitos é o fator “força de vontade”. Atribuímos a essa estranha força o segredo para nossos sucessos e fracassos. Mas a força de vontade é prima da motivação e é natural que flutue. Teremos força de vontade para algumas coisas em alguns momentos, mas ela estará ausente em outros. Logo, devemos passar ao processo de criação de hábitos para que não haja tamanho esforço ao gerar e manter um comportamento.

As etapas para o processo de criação de hábitos de estudo são: AQUISIÇÃO, COMPARTILHAMENTO, DEFINIÇÃO, CRIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO.

ETAPA DE AQUISIÇÃO

1. Entenda do assunto. Pesquise, conheça, compreenda como se dá o processo de criação de hábitos, suas bases neurais e fisiológicas. Só assim conseguiremos passar adiante e trabalhar de forma personalizada para cada aluno.

ETAPA DE COMPARTILHAMENTO

2. Repasse aos seus alunos. Não podemos cobrar que alunos estudem, se eles não sabem por onde começar. Os alunos precisam e merecem saber tanto sobre aprendizagem quanto nós professores.

3. Compartilhe com pares. A comunidade escolar também precisa estar a par de tais informações. Isso inclui coordenadores, diretores, colaboradores e principalmente, os familiares e cuidadores.

ETAPA DE DEFINIÇÃO

4. Escolha os hábitos. Defina quais hábitos precisam ser criados com base nas necessidades de seus alunos. O foco será o estudo em casa ou comportamentos específicos para a sala de aula? Os alunos devem participar dessa etapa.

ETAPA DE CRIAÇÃO

5. Crie os comportamentos. Uma vez definidos os hábitos necessários, é necessário estruturar como e quando serão colocados em prática. Caso sejam comportamentos para a sala de aula, é mais fácil de o professor conseguir estruturar algo que funcione para a rotina da turma. Caso sejam comportamentos para a casa, algumas etapas deverão ser personalizadas pelos próprios alunos.

Atenção: um hábito é algo natural. Feito sem muito esforço em termos de decisão. Logo, comportamentos muito elaborados ou que gerem muita demanda física ou mental serão abandonados depois que a motivação inicial passar.

ETAPA DE ACOMPANHAMENTO

6. Acompanhe o processo. Acompanhar o comportamento é importante para realizar ajustes. Se o programa criado não está sendo cumprido em sua totalidade ou se após algum tempo, houve desistências e os hábitos não foram consolidados, é necessário ajustar os comportamentos desejados.

Quer saber mais como criar hábitos duradouros e ajudar seus alunos? Entre em contato conosco e agende uma conversa!

Fonte: Glia Neurociência