Em tempos de metodologias ativas e toda sorte de mudanças que devemos fazer em nossas aulas, fica o questionamento: sabemos como dar aulas diferentes das quais estamos acostumados?

Um questionamento ainda mais profundo é: nossos alunos estão preparados para tais mudanças?

Recentemente um amigo professor relatou a dificuldade que estava enfrentando em sala de aula pois os próprios alunos rejeitavam as novas metodologias trazidas. Eles mesmos pediam ao professor para que “desse aulas normais”. Como professores, não poderíamos ficar mais frustrados.

Mas a verdade é que, da mesma forma que sentimos dificuldades em formular aulas diferentes que gerem engajamento, os alunos também sentem a mudança. E talvez não saibam lidar com ela.

Imagine-se tendo estudado a vida inteira em um colégio tradicional, com carga horária alta e aulas absolutamente expositivas. Você foi submetido a testes padronizados durante toda a vida escolar e, de repente, ao chegar ao ensino médio, no fim de sua vida escolar, se depara com um professor cujas aulas fogem inteiramente ao padrão.

Em suas aulas, o professor pede que os alunos fechem os cadernos, modifiquem a posição das carteiras, e iniciem uma discussão acalorada sobre o tema da aula. Você não sabe bem o que fazer. Apesar de todas as instruções dadas pelo professor, você como aluno, sente-se desconfortável e se fecha à atividade. Parece que não aprendeu, afinal você não anotou nada no caderno e o quadro continha poucas informações. Como você vai estudar para a prova?

Esses alunos não estão errados. Nem o professor. O que acontece é um descompasso entre aluno e metodologia. Essas crianças passaram a vida inteira aprendendo a receber informações prontas e memorizá-las para depois, descrevê-las em provas padronizadas escritas.

Desenvolveram seus próprios métodos cognitivos para otimizar os seus estudos a fim de conseguirem reproduzir informações previamente recebidas.

A mudança de chave de uma aula expositiva para uma aula “ativa” requer a mesma mudança de um cérebro receptivo para um cérebro ativo. Não se consegue tal mudança tão rapidamente. São necessários ajustes, reforço de sinapses e conexões que talvez ainda sejam fracas ou sequer estejam formadas.

Portanto, é preciso orientar nossos alunos nesse caminho ainda novo. Não adianta mudarmos as regras do jogo sem ao menos explicá-las ou torná-las visíveis.

Saímos de uma aula onde mostramos conhecimento acumulado, para uma aula onde ajudamos outras pessoas a construírem conhecimento. E não é tarefa fácil.

Seguem, então, algumas dicas para a introdução de metodologias ativas na sala de aula:

  • Explique aos alunos a intencionalidade das novas tarefas e aulas.
  • No caso de alunos mais velhos, mencione dados concretos sobre a eficácia de tais métodos. Isso gera confiança de que a mudança será benéfica.
  • Faça pequenos testes após as tarefas e mostre aos alunos o quanto eles retiveram informações.
  • Tente não fazer a mudança de forma brusca com atividades muito disruptivas logo de início. Metodologias ativas podem estar em discussões ou grupos de conversas. Não precisa criar um projeto de seis meses logo de cara.
  • Esteja seguro de suas práticas e só as leve para a sala de aula depois de muito ter pensado nelas.
  • Planeje as atividades com antecedência prevendo possíveis rotas que as atividades tomarão, para não ser pego desprevenido em sala de aula.
  • Não é necessário abrir mão das aulas expositivas. Elas podem ser mescladas com atividades facilitadoras e essa união gera resultados incríveis.
  • Foque na intencionalidade pedagógica. Esteja seguro de que a tarefa dada tem um propósito. Não adianta colocar os alunos para correr uma maratona em sala mudando de estações loucamente se a intencionalidade não é clara.
  • Por fim, confie em sua experiência ao tentar algo novo em sala de aula. Colete opiniões dos alunos, refine as atividades até que elas se encaixem em cada realidade. Serão necessários ajustes e nem sempre o que funciona em uma turma, funcionará em outra.

Fonte: Glia Neurociência